Ouvir Bob Dylan me traz muita paz, tranquilidade, parece que não existe nada lá fora e, por alguns momentos não existe mesmo. A musica de Dylan aguça os meus sentidos, me deixa em estado de ebulição extraindo de mim os melhores sentimentos. É maravilhoso! 
Aos poucos fui pesquisando as letras das canções de Dylan. E descobri que o prazer de ouvir Bob Dylan só é comparado ao prazer de ler Bob Dylan.
Por isso, trago para vocês a magnifica poesia de Mr. Dylan.
Sinos da liberdade
Bem depois do por do sol, antes do badalar pungente da meia noite 
Nos atiramos pelo umbral da porta em meio a trovões que desabavam 
Enquanto os sinos majestosos dos raios lançavam sombras nos sons 
Como se fossem os sinos da liberdade cintilando 
Cintilando pelos guerreiros cuja força está em não lutar 
Cintilando pelos refugiados em seu caminho indefeso de fuga 
E para cada soldado oprimido naquela noite 
Olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade. 
Na fornalha derretida da cidade, olhamos inesperadamente 
Rostos ocultos, as paredes como que querendo nos esmagar, 
Enquanto o eco dos carrilhões confrontado com a chuva que assoviava 
Dissolvia-se no som dos sinos dos relâmpagos 
Os sinos dobravam para os rebeldes, dobravam para os torturados 
Para os infelizes, abandonados e desamparados 
Dobravam para os párias, sempre queimados na fogueira. 
E olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade. 
Pelo martelar místico e louco da tempestade selvagem 
O céu chicoteava seus poemas em maravilha pura 
Que o som dos carrilhões das igrejas sumia longe na brisa 
Deixando apenas os sinos dos trovões e relâmpagos 
Os sinos dobravam para os gentis, dobravam para os bondosos 
Para os guardiões e protetores das mentes 
E para o pintor independente que sobrevive além de seu tempo 
E olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade. 
Por toda a noite, qual igreja selvagem, a chuva descortinava histórias 
Para os seres deslocados, sem rosto e sem agasalho 
Os sinos dobravam para as bocas sem lugar para serem ouvidas, 
Sempre inferiorizadas com essa situação assumida 
Os sinos dobravam para os surdos e cegos, dobravam para os mudos, 
Dobravam para os mal tratados, mães solitárias e prostitutas 
Para os proscritos, caçados e derrotados pela captura. 
E olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade. 
Apesar de uma cortina branca de nuvens brilhar ao longe 
E do nevoeiro hipnótico ir subindo lentamente, 
As luzes dos raios eram como flechas, disparadas para todos, menos para aqueles 
Condenados a vagar ou então, até disso, impedidos. 
Os sinos dobravam para os que procuram algo, em sua trilha silenciosa 
Para os amantes de coração solitário com suas histórias muito pessoais 
E para cada alma gentil e inofensiva, deslocada em uma cela. 
E olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade. 
Olhos brilhando e sorrindo, lembro de como ficamos parados 
Sem sentir o passar do tempo, que para nós ficou congelado 
Ao escutarmos ainda uma vez mais, ao darmos uma última olhada 
Tomados pela emoção, nó na garganta, até o fim do soar dos sinos 
Que dobravam para os feridos sem quem cuide de suas chagas 
Para os incontáveis acusados, 
E para cada pessoa impedida em todo este vasto mundo 
E olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade.
  
Bob Dylan