quinta-feira, 29 de julho de 2010

Um herói, um palhaço, um professor...


Um herói, um palhaço, um professor...


Vida de professor é complicada, mas também pode ser muito engraçada.

Entrei na sala por volta das 13:10 de uma terça-feira para dar aula aos meus pequenos terroristas do Ensino Fundamental I. Assim que adentro à sala de aula recebo aquele caloroso e ensurdecedor BOOOOAAAA TAAAAARRRDDDDEEEE TTTIIIIIOOOOOOO! Vocês não imaginam como isso é gratificante e aterrorizante ao mesmo tempo he he he. Sinto que fui jogado aos leões, meu Deus e agora o que eu faço? Tento seguir em frente sem mostrar o quanto aquela situação me deixa angustiado. Daí um corre e me abraça, e vem outro, e outro, e outro e daqui há pouco estou eu encostando na parede, pois não agüento tanta criança junta me abraçando e perco o equilíbrio, e é uma loucura, do nada um deles cai no chão, os outros só de pirraça caem junto e eu fico desesperado pedindo para que eles levantem e é aquela tortura, eu levanto um, o outro aproveita pula no meu pescoço, é um sufoco.

Com a situação já mais ou menos controlada, começo a aula sobre animais. Mostro algumas figuras e digo o nome dos animais em língua inglesa pedindo para eles repetirem comigo, ao mostrar a figura, eles automaticamente fazem a relação do nome ao animal e com isso o identificam mais facilmente. Faço uma brincadeira onde imito os sons dos animais e eles me dizem o nome daquele animal em Língua inglesa, é muito divertido e nessa hora eu percebo o quanto sou importante, o quanto o professor é o herói daquela garotada, o professor é o cara, o dono da situação naquele momento, é maravilhoso. Bem, como tudo tem dois lados. Há uma música do Bon Jovi que diz o seguinte: “Quando você acha que está de pé, na verdade você se encontra ajoelhado.” .

É incrível isso, quando eu estava no auge da minha glória, no êxtase da minha emoção vem o Felipe, um dos menores e um dos mais espertos também. Ele tira um óculos escuro da bolsa, coloca no rosto, se vira para mim e pergunta:

- E aí tio. Como eu estou?
- Poxa cara, tá demais viu, é o cara mais bonito do colégio.
- Tio. Posso contar um segredo para o senhor?
- Pode grande Felipe, diz aí.

Ele se aproxima com aquele óculos maior do que o rosto dele e fala baixinho:

- Tio eu sempre achei esse sapato do senhor parecido com o do Patatí!!!!

Olha eu sem graça na história.

- E é?
- É, mas nunca disse isso para ninguém não.
- Grande Felipe he he he (risada sem graça), esse é um segredo só nosso hein!!!
- Pode deixar tio.

De uma hora para outra eu passei de herói da turma (pelo menos eu achava) a palhaço Patatí. Seria trágico se não fosse cômico.

Sabe de uma coisa, tá tranqüilo. No fundo o palhaço é mesmo um herói para as crianças.



D. Fernando

sábado, 17 de julho de 2010

Procurando sonhos na escuridão.



A procura

Às vezes procuramos sonhos na escuridão
Olhando de nossas janelas
Só vemos as sombras que cruzam
O caminho de nossa alma

Insistimos em desenterrar
Pesadelos mortos que já
Não fazem nenhum sentido

Não sei viver com o coração partido
E com lágrimas nos olhos
Às vezes o coração
Quer algo que não se pode
Simplesmente tocar com as mãos


D. Fernando

Fatos verídicos????


Eu te amo meu irmão


Quando eu era adolescente comecei com essa mania de criar historinhas a toda hora. Bastava acontecer alguma coisa e lá estava eu inventando uma história. Tinha dois companheiros inseparáveis nessas aventuras engraçadas: Dé e Nano. Dois irmãos que me acompanhavam nesse mundo que misturava fantasia e realidade. Vou contar para vocês um desses acontecimentos.

Por volta e 1986, Bié o cara, o marginal, o perigoso de Santa Luzia do Norte fora assassinado a tiros.

Eu, Dé e Nano resolvemos ir ao velório da figura. Era uma casinha pequena (essa foi massa hein). Estava lotada. A família do cara era grande e havia alguns curiosos. Nós estávamos lá apenas para passar o tempo mesmo e, quem sabe não acontecia algo de interessante no velório do cara mais perigoso da cidade.

Lembro que o Dé disse:

- É. Balearam o infeliz mesmo.

Pode parecer doentio, mas nos entreolhamos e, um sorriso assim meio que de canto de boca surgiu no ar.

O velório seguia e o clima variava de um silêncio profundo a alguns cochichos e nada acontecia. Não entendia porque tanta demora em enterrar o cara. De repente o Nano chega pra mim e diz:

- Estão esperando uma irmã dele que vai chegar, estão dizendo que é uma mulher rica e muito educada, discreta e outras coisas lá.

- Ah tá.

Pobre é triste, até numa hora dessas fica se gabando de um parente rico que nunca dar valor a ele.

- Vamos dar uma última olhada nessa coisa e vamos embora. Eu disse.

Ficamos mais um pouco na janela da casa, tínhamos uma visão privilegiada da sala, do caixão que estava com a tampa aberta e de alguns familiares. De repente no meio daquele silencio surge um assovio. Não nos contivemos, era engraçado demais:

- Cara quem é que tá assoviando nega do cabelo duro num velório hein bicho? rs rs rs
- Sei lá veio! rs rs rs

Uma irmã do defunto sai fazendo o maior escândalo.

- Quem peste ta fazendo uma desfeita dessas?
- Bié meu irmão perdoe essa infeliz.

Claro, não podíamos perde a chance de fazer uma piada, mesmo que entre a gente.

- Quem o Bié? É mais fácil ele sair do caixão e dançar rs rs rs
- Já viu uma alma sebosa dessas poder perdoar ninguém rs rs rs
- E agora virou santo foi? rs rs rs

Foi um momento constrangedor para todos, menos pra gente que tava morrendo de rir com a situação.

A coisa toda volta ao normal, pelo menos para um velório. De repente uma irmã toda descabelada entra na sala e diz:

- Minha gente ajeita ele que a Neuza chegou.

Neuza, a irmã rica e podre de chique. Estava sempre nas colunas sociais da época, pessoa fina, dessas que só mostram emoção pelos cantos dos olhos, muito discreta. Pelo menos era do que se gabava à família.

Quando Neuza adentrou pela porta da sala, todos pararam para olhá-la, inclusive nós. E a surpresa foi geral. Neuza num arroubo descontrolado de emoção gritou:

- Biiééé meu irmão o que fizeram com você, meu querido?
- Você não merecia isso, uma pessoa boa, uma alma pura.

A Neuza pelo visto não conhecia a peça.

- Ô meu Deus que desgraça, Biiiiéééé
- Me leve com você, me leve com você meu irmão.
- Uma pessoa tão boa, eu te amo Biiiiééé

Nisso a Neuza correu pra cima do caixão e agarrou com tanta força que a base de sustentação não agüentou e rompeu. A Neuza desesperada se agarrou no caixão para não deixá-lo cair, esforço esse que foi em vão. O caixão virou por cima dela. O defunto e o caixão ficaram por cima da Neuza que esperneava e gritava:

- Bié meu irmão eu tava brincando quando pedi pra você me levar
- Tirem esse peste de cima de mim
- Sai daqui defunto catinguento
- Soooocccoooorrrrroooooo!!!!!!!



D. Fernando

Só você e a estrada...


Sem nada

Caminhar sozinho às vezes é bom
Sem destino, sem caminhos a seguir
Sem amigos, sem parada

Só um sorriso no rosto
Pés descalços na velha estrada
sendo um só, sem nada

D. Fernando

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Compartilhando textos e poesias

Ouvir Bob Dylan me traz muita paz, tranquilidade, parece que não existe nada lá fora e, por alguns momentos não existe mesmo. A musica de Dylan aguça os meus sentidos, me deixa em estado de ebulição extraindo de mim os melhores sentimentos. É maravilhoso!

Aos poucos fui pesquisando as letras das canções de Dylan. E descobri que o prazer de ouvir Bob Dylan só é comparado ao prazer de ler Bob Dylan.


Por isso, trago para vocês a magnifica poesia de Mr. Dylan.


Sinos da liberdade

Bem depois do por do sol, antes do badalar pungente da meia noite
Nos atiramos pelo umbral da porta em meio a trovões que desabavam
Enquanto os sinos majestosos dos raios lançavam sombras nos sons
Como se fossem os sinos da liberdade cintilando
Cintilando pelos guerreiros cuja força está em não lutar
Cintilando pelos refugiados em seu caminho indefeso de fuga
E para cada soldado oprimido naquela noite
Olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade.

Na fornalha derretida da cidade, olhamos inesperadamente
Rostos ocultos, as paredes como que querendo nos esmagar,
Enquanto o eco dos carrilhões confrontado com a chuva que assoviava
Dissolvia-se no som dos sinos dos relâmpagos
Os sinos dobravam para os rebeldes, dobravam para os torturados
Para os infelizes, abandonados e desamparados
Dobravam para os párias, sempre queimados na fogueira.
E olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade.

Pelo martelar místico e louco da tempestade selvagem
O céu chicoteava seus poemas em maravilha pura
Que o som dos carrilhões das igrejas sumia longe na brisa
Deixando apenas os sinos dos trovões e relâmpagos
Os sinos dobravam para os gentis, dobravam para os bondosos
Para os guardiões e protetores das mentes
E para o pintor independente que sobrevive além de seu tempo
E olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade.

Por toda a noite, qual igreja selvagem, a chuva descortinava histórias
Para os seres deslocados, sem rosto e sem agasalho
Os sinos dobravam para as bocas sem lugar para serem ouvidas,
Sempre inferiorizadas com essa situação assumida
Os sinos dobravam para os surdos e cegos, dobravam para os mudos,
Dobravam para os mal tratados, mães solitárias e prostitutas
Para os proscritos, caçados e derrotados pela captura.
E olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade.

Apesar de uma cortina branca de nuvens brilhar ao longe
E do nevoeiro hipnótico ir subindo lentamente,
As luzes dos raios eram como flechas, disparadas para todos, menos para aqueles
Condenados a vagar ou então, até disso, impedidos.
Os sinos dobravam para os que procuram algo, em sua trilha silenciosa
Para os amantes de coração solitário com suas histórias muito pessoais
E para cada alma gentil e inofensiva, deslocada em uma cela.
E olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade.

Olhos brilhando e sorrindo, lembro de como ficamos parados
Sem sentir o passar do tempo, que para nós ficou congelado
Ao escutarmos ainda uma vez mais, ao darmos uma última olhada
Tomados pela emoção, nó na garganta, até o fim do soar dos sinos
Que dobravam para os feridos sem quem cuide de suas chagas
Para os incontáveis acusados,
E para cada pessoa impedida em todo este vasto mundo
E olhamos, maravilhados, o cintilar dos sinos da liberdade.

 
Bob Dylan

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O último dos Guitar Heroes.

Grandes guitarristas nós temos muitos, heróis da guitarra só alguns. Hendrix, Clapton, Santana, Eddie Van Halen, esses são alguns exemplos de grandes heróis da guitarra.

Com o advento das novas tecnologias e de um quadro econômico equilibrado mundialmente, os jovens tiveram acesso à música, de uma maneira geral com uma facilidade nunca vista antes. Muitos comprando seus instrumentos e fazendo sua música, outros consumindo essa música, uma outra parte trabalhando na divulgação através dos novos veículos de comunicação, enfim, a música está em toda parte.

Novos astros surgem todos os dias, guitarristas e suas técnicas mirabolantes, cada um tocando mais rápido; mais preciso; mais qualquer coisa do que o outro, é incrível. Daí eu me pergunto. Quantos deles tem identidade musical? Quantos desses novos ases da guitarra você identifica quando escuta um riff de seu instrumento? Quantos deles ultrapassaram os limites de seu estilo musical? Eu falo de unidade, expressividade e mais, eu falo de status mesmo. Quem foi o cara que empunhando uma guitarra nas últimas duas décadas conseguiu criar em torno de sua imagem uma áurea mágica, conseguiu soar tão único em seu estilo de tocar e ainda conseguiu ser uma unanimidade dentro e fora do ciclo Rock N’ Roll, tendo sido convidado para engrandecer o trabalho de vários artistas dos mais variados estilos musicais ao redor do mundo?

Sem medo de ser crucificado pelos “entendidos” no assunto, eu respondo as perguntas que fiz acima. Depois de Saul Hudson, conhecido mundialmente como Slash, não houve mais nenhum outro guitarrista que pudesse ostentar o título de herói da guitarra. Tecnicamente existem muitos guitarristas melhores do que o Slash, mas alcançar o status que esse cara alcançou como guitarrista é coisa para um grupo seleto meus amigos, esses eu chamo de verdadeiros heróis da guitarra. Acho que foi o Zakk Wilde quem disse e eu faço minhas as palavras dele ou de quem quer que tenha dito. O Slash é o último dos guitar heroes.


D. Fernando