Porteiras
Tem porteiras nas entradas da cidade
Pelo menos é o que parece
Encurralados feito gado
Apagando feito o sol quando anoitece
Sente frio
Se abraça logo aquece
Sente vontade
Fecha os olhos logo esquece
Sente dor, passa fome e adoece
Povo sem brio, esquecido - tem o que merece
Tem porteiras nas entradas da cidade
Pelo menos é o que parece.
D. Fernando
Crônica
É uma doença crônica, não tem cura.
Alguns sentados à sombra, bebendo água purificada.
Tantos sentados ao sol, sem água no pote...
Na secura.
D. Fernando
Velho sábio
Sigo os conselhos desse velho sábio.
Sigo as rosas ao longo do caminho.
Sigo de olhos fechados.
Sigo descalço, na velha estrada de espinhos.
D. Fernando
Prisão sem muros
Preso numa prisão sem muros.
Em lugares escuros, escondo o meu coração.
Sozinho numa velha estrada.
Alma penada, penando sem direção.
Perdido, jogado do avesso.
De frio estremeço, na solidão.
Escrevo algo sobre o mundo.
No sono profundo, na contramão.
D. Fernando
Sem nada
Caminhar sozinho às vezes é bom
Sem destino, sem caminhos a seguir
Sem amigos, sem parada
Só um sorriso no rosto
Pés descalços na velha estrada
sendo um só, sem nada
D. Fernando
O vôo da águia
Mergulha de olhos abertos.
Sente o vento no rosto.
Abre as asas, corpo ereto,
Dorso exposto, no ar.
Voa livre
Voa alma
Voa longe
Voa águia
D. Fernando
Sonhos no escuro
Às vezes procuramos sonhos no escuro
Olhando de nossas janelas
Só vemos as sombras que cruzam
O caminho de nossa alma
Insistimos em desenterrar
Pesadelos mortos que já
Não fazem nenhum sentido
Não sei viver com o coração partido
E com lágrimas nos olhos
Às vezes o coração
Quer algo que não se pode
Simplesmente tocar com as mãos
D. Fernando
Prisioneiro
Prisioneiro de um estado de dormência
Tão intenso que nem conseguia pensar
Seguia um caminho sem volta
Por entre paredes que delimitavam
Uma estrada que levava a lugar nenhum
A luz apesar de intensa
Ficava a cada passo mais distante
Outro passo a frente
De repente o vento contra a minha face
Se torna mais forte
O frio congela o medo
Me vejo em queda livre
Até ouvir sua voz me chamar
Quebrando de vez o encanto
Do seu olhar.
D. Fernando